terça-feira, 20 de julho de 2010

Quando era menino pensava como menino...




Já era noite mas as crianças ainda brincavam na rua, a luz da lua começava a clarear os quintais e varandas enquanto as mães se preocupavam com o jantar. Essa hora parecia a mais divertida de todas, quanto mais se aproximava a hora de parar de brincar e ir para casa é que as conversas e brincadeiras se tornavam mais animadas. Todos sabiam que já era hora de parar mas queriam aproveitar um pouco mais daqueles momentos que às vezes pareciam ser os últimos.

Era assim que Tiago e os outros se sentiam nos últimos dias de férias, tentavam aproveitar ao máximo cada momento. Tiago, apesar de sempre ser aquele que comandava as brincadeiras sentia que as atenções se voltavam para ele de forma especial naquele verão, os amigos o chamavam para todas as brincadeiras e queriam que ele participasse de tudo. Mas aquele dia tornara-se ainda mais importante, afinal havia sido a primeira vez que os meninos da rua tinham vencido o campeonato de futebol e para completar tinham conseguido chegar à parte mais alta de um monte que ficava no final do bairro.

Todos haviam de se lembrar daquele dia de forma especial. Muitas coisas aconteceram em uma só tarde, conquistar o campeonato de futebol, subir o monte do bairro... O que mais poderiam querer?

Oito horas da noite, dava para ouvir aquela vinheta de abertura do “Fantástico” e isso deixou os meninos com uma angústia inexplicável, mais forte que todas às vezes que se percebia o fim do domingo. Aquele fim de tarde e início de noite era realmente diferente, afinal Tiago precisaria ir embora da cidade. A notícia tinha sido recebida há alguns dias e os amigos de Tiago já estavam acostumados com a ideia, mas aquele dia fez com que todos se lembrassem de vários momentos daquela infância tão feliz.

Era como se os meninos soubessem que não se tratava apenas da mudança de um amigo para outra cidade, eles podiam sentir a ruptura no tempo de meninos, nas brincadeiras tão inocentes de criança. Iam todos agora para o segundo grau e isso representava uma mudança drástica em suas vidas. Tiago era visto pelos garotos da rua como um líder, as brincadeiras começavam a partir de suas ideias, todas muito divertidas. Mas, agora ele iria embora e com ele um tempo que não voltaria mais. Como era difícil naqueles dias aceitar o novo, compreender a necessidade de avançar uma etapa (parecia tão fácil no “Nintendo” ficar avançando níveis e zerar o jogo!). Aquela angústia parecia doer no peito...

Mas, no outro dia, Tiago havia partido para a cidade e a vida continuava. Ele estava tendo novas experiências e os meninos também. Aquele sentimento de angústia e de medo agora parecia ter se transformado em uma mescla de sensações onde predominava o orgulho de ter avançado e a expectativa pelas novas descobertas.

Estariam deixando de ser meninos?

A mudança que era inexorável agora parecia ser até necessária, Tiago cresceria, os meninos também, e no final de tudo a amizade os manteria unidos, e além disso eram eles mais que amigos, foram criados juntos, eram irmãos por escolha! Algo os faria estar juntos de novo e mesmo que as situações não conspirassem para isso poderiam fazer algo para compartilhar novamente as suas vidas.

Mas ninguém entendia ainda o que Tiago tinha escrito na pedra que ficava no alto do monte, que mistério estava por trás daquele código, isso era realmente coisa do Tiago, gostava de um mistério, passava horas elaborando planos, estratégias, era ele quem mais gostava de brincar de tesouro escondido. O que significavam aquelas letras e números? Por quê naquele código estaria a chave daquela amizade? PV17171CO1311.

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